
A verdadeira arte de viajar
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo
Não importa que os compromissos e as obrigações estejam ali
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando
Último post escrito em terras inglesas!
Oito semanas depois, é hora de me despedir da Inglaterra, fechar o mochilão, pegar o avião e partir para novos rumos no velho mundo. Hoje, olhando pra trás, concluo que o tempo passou rápido demais e os dois meses na terra da rainha voaram. Vou embora daqui com a sensação de missão cumprida e de sonho realizado!
Já estou tão acostumada com a minha rotina, a escola, o curso, os professores, os colegas, o meu quarto e a cidade, que bate saudade ao pensar que esse ciclo está sendo fechado. Afinal, morar fora do seu país é uma experiência enriquecedora! Sentirei saudades da organização e da pontualidade inglesa, do chá com leite, de passar a tarde no parque lendo e ouvindo música, de comprar o megarider toda semana e andar em ônibus confortáveis, das excursões e viagens, da Escócia, de passear nas farmácias ver as maquiagens, do doritos laranja, do kit kat, do pacote de snickers gigante por £2, da poundland, da srilankanesa dizendo ‘dinner ready, come’, das tentativas frustradas de conversar com a srilankanesa, do estresse pra lavar roupa, do macarrão sem molho com cenoura, do Botanic Garden, do punting, do Café Brazil, do crepe, de passar frio, do vento, de Londres, de Bath, de Stonehenge, de Stratford, de Oxford, de Ely, de Grantchester, de Greenwich, de Windsor, de conhecer a Gabi, de caminhar muito mais que o necessário por preguiça de analisar o mapa com calma, dos horários malucos, dos museus, das igrejas, dos castelos, dos amigos...
Hoje, tenho certeza que qualquer viagem começa com um primeiro passo... e tenho mais certeza ainda que viajar é uma das melhores coisas do mundo, principalmente porque ninguém volta igual de uma viagem! Viajar é cultura, é conhecimento, é amadurecimento, é desafio, é descoberta, é surpresa, é diversão, É VIDA!
Não conseguirei atualizar o blog durante o mochilão, mas conto tudo quando chegar ao Brasil!
SAUDADES!
Perder a viagem
Você pede ao patrão para sair mais cedo do trabalho, aí pega um ônibus lotado, vai para um consultório médico que fica no outro lado da cidade, gasta seus trocados, seu tempo e seu humor e, ao chegar, esbaforido e atrasado, descobre que sua hora, na verdade, está marcada para semana que vem. Sinto muito, você perdeu a viagem. Todo mundo já passou por uma situação assim, de estar no lugar errado e na hora errada por pura distração. Acontecendo só de vez em quando, tudo bem, vai pra conta dos vacilos comuns a qualquer mortal. O problema é quando você se sente perdendo a viagem todos os dias. Todinhos. É o caso daqueles que ainda não entenderam o que estão fazendo aqui. Estão perdendo a viagem aqueles que não se comprometem com nada: nem com um ofício, nem com um relacionamento, nem com as próprias opiniões. Estão sempre flanando, flutuando, pousando em sentimento nenhum, brigando por idéia nenhuma, jamais se responsabilizando pelo que fazem, pois nada fazem. Respirar já é para eles tarefa árdua e suficiente. E os dias passam, e eles passam, e nada fica registrado, nada que valha a pena lembrar. Estão perdendo a viagem aqueles que, em vez de tratarem de viver, ficam patrulhando a existência alheia, decretando o que é certo e errado para os outros, não tolerando formas de vida que não sejam padronizadas, gastando suas bocas com fofocas, seus olhos com voyeurismo, sem dedicar o mesmo empenho e tempo para si mesmo. Estão perdendo a viagem aqueles preguiçosos que levam semanas até dar um telefonema, que levam meses até concluir a leitura de um livro, que levam anos até decidir procurar um amigo. Pessoas que acham tudo cansativo, que acreditam que tudo pode esperar, que todos lhe perdoarão a ausência e o descaso. Estão perdendo a viagem aqueles que não sabem de onde vieram nem tentam descobrir. Que não sabem para onde ir e nem tentam encontrar um caminho. Aqueles para quem a televisão pode tranqüilamente substituir as emoções. Estão perdendo a viagem todos aqueles que se entregam de mão beijada às garras afiadas do tédio.
Martha Medeiros
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